PROTEçÃO

TERRITORIAL

A Terra Indígena Yanomami é a maior terra indígena do Brasil, com uma área
de mais de nove milhões de hectares, localizadas em dois estados, Amazonas
e Roraima, e oito municípios. Somada aos territórios Yanomami e Yek’wana na
Venezuela formam uma das maiores e mais importantes áreas de floresta
tropical contínua do mundo.

AMeaças TI Yanomami

Desde o período dos primeiros contatos com a sociedade não indígena, na primeira metade do século XX, porém, esse território se encontra sob constante crescente ameaça. Primeiro, em função dos impactos dos grandes projetos
de infraestrutura do governo militar, na década de 1970, e depois com a descoberta do potencial minerário da região, que levou a uma terrível “corrida do ouro” no território Yanomami no final da década de 1980.

 

 

Durante o auge da invasão garimpeira da década de 1980, o número de garimpeiros no território yanomami foi estimado em 30 a 40.000 pessoas, cerca de cinco vezes a população indígena ali residente, e o caos sanitário decorrente da invasão garimpeira foi responsável pela morte de cerca de 20% da população yanomami em Roraima.

"JUNTOS, POVO DA FLORESTA, POVO DA CIDADE."

DAVI KOPENAWA

Atualmente, a Terra Indígena Yanomami (TIY) ainda vive um momento devastador da invasão do garimpo ilegal. Embora, atividades tenham sido realizadas pelo Governo Federal que declarou, em janeiro de 2023, Emergência em Saúde Pública de Importância Nacional para combate à desassistência sanitária e nutricional, depois da constatação da morte de mais de 570 crianças nos últimos quatros anos, por doenças tratáveis como diarreia e verminose (https://sumauma.com/nao-estamos-conseguindo-contar-os- corpos/) e a realização de ações de combate ao garimpo pelo Ibama, Polícia Federal e Força Nacional, mas que não conseguiram barrar ações de invasão
ao maior território indígena do Brasil.

Em agosto de 2023, a Hutukara em parceria com a Associação Wanasseduume Ye’kwana (Seduume) e Urihi Associação Yanomami, lançaram
o relatório “Yamaki ni ohotai xoa! Nós ainda estamos sofrendo: um balanço dos primeiros meses da Emergência Yanomami”
(https://acervo.socioambiental.org/ACERVO/DOCUMENTOS/YAMAKI-NI-OHOTAI-XOA-NOS-AINDA-ESTAMOS-SOFRENDO-UM-BALANCO-DOS-PRIMEIROS-MESES-DA)

Até o início do ano passado, a TIY vivia a maior invasão garimpeira desde a demarcação do território, em 1992. Estima-se que mais de 20 mil garimpeiros estavam trabalhando ilegalmente dentro da TI, onde a atividade já destruiu uma
área maior do que 3 mil campos de futebol. A maior parte da destruição ainda acontece nas margens dos rios Uraricoera, Mucajaí e Couto Magalhães, mas em outras regiões como no Parima, Apaíu e Catrimani, o impacto é também
muito grande.

 

O garimpo não destrói apenas a floresta e os rios, ele traz diversos outros
prejuízos para a vida dos Yanomami. A malária, por exemplo, é uma doença

que aumentou muito na Terra Yanomami, principalmente nas comunidades que
estão localizadas perto dos garimpeiros. No polo base do Palimiu, a doença
cresceu tanto que lá, em 2021, teve quase dois casos de malária por pessoa.

 

Outro problema grave é a violência. Em muitas regiões os garimpeiros abusam das mulheres e adolescentes Yanomami e ameaçam as lideranças. No rio Uraricoera, os garimpeiros estão fortemente armados e já dispararam várias vezes contra as pessoas nas comunidades e até mesmo contra agentes do
Ibama e Polícia Federal durante as operações. No Parima dois jovens foram assassinados por garimpeiros depois de uma briga. No Homoxi um jovem morreu atropelado por um avião. São muitos os casos de morte. Mortes também por falta de assistência médica nos locais em que os postos de saúde foram abandonados, por que os funcionários têm medo dos garimpeiros

 

A Hutukara, por sua vez, desde a sua criação em 2004, tem lutado incansavelmente pela integridade do território e pela dignidade de suas comunidades, frente a essa série de ataques perpetrados contra seu povo nas
últimas décadas. 

Como estratégia de defesa, a Hutukara tem trabalhado a partir de uma visão holística da Proteção Territorial, que envolve o monitoramento territorial, a comunicação para dentro e para fora da Terra Indígena, e a defesa de direitos humanos em âmbito nacional e internacional. Mais recentemente, a Hutukara
tem buscado também incorporar novas tecnologias no seu trabalho de vigilância, fomentando a capacitação de jovens no uso de drones e de um sistema de alertas precoces para acompanhar situações de emergência
sanitárias, climáticas e territoriais.

Proteger a maior Terra Indígena do mundo, em um contexto de constante pressão e ausência do Estado, não é tarefa fácil, mas, para os Yanomami trata-se de um compromisso urgente. Pois, a proteção do território é fundamental
não apenas para a garantia dos recursos naturais necessários para a sobrevivência das famílias indígenas, mas também para o equilíbrio do planeta e o controle das forças que promovem a ordem cosmológica: a fúria dos
trovões e dos ventos das tempestades, a regularidade da alternância do dia e
da noite, a abundância da caça, a fertilidade das plantações, etc.

 

Como tem alertado Davi Kopenawa:

“A terra-floresta só pode morrer se for destruída pelos brancos. Os riachos sumirão, a terra ficará friável, as árvores secarão e as pedras das montanhas racharão com o calor. A terra-floresta se tornará seca e vazia. Os xamãs não poderão mais deter as fumaças-epidemias e os seres maléficos que nos adoecem. Assim, todos morrerão”.

"YANOMAMI PROTEGE A ALMA DA TERRA, MUNDO-GERAL."

DAVI KOPENAWA

lideranças